Em meio ao centenário do Partido Comunista Chinês, o avanço da vacinação para combater a pandemia de Covid-19 e um novo governo americano, o embaixador da China em Brasília, Yang Wanming, vê uma nova encruzilhada nas relações entre Pequim e Washington.
– A chave da questão é saber se os EUA reconhecem ou não que o povo chinês também tem o direito de buscar o progresso – avaliou Wanming.
Ele deu declarações ao Estadão, e diplomata garantiu que seu país não tem a intenção de “desafiar ou substituir” ninguém, nem de exportar ideologia ou buscar a hegemonia do mundo.
De acordo com Wanming, a China quer, no entanto, ser vista com uma visão “racional e objetiva”. Um dos pontos mais delicados no momento é em relação à tecnologia 5G, usada pelos EUA, segundo ele, como “bullying tecnológico”.
– O 5G vai dar um impulso ao crescimento econômico dos países e é fundamental para qualquer país escolher equipamentos verdadeiramente confiáveis, avançados e de melhor custo-benefício. Os consumidores só se beneficiarão com uma concorrência justa, equitativa, aberta e transparente. Mesmo com um histórico manchado em matéria de segurança de internet e autor descarado de ataques cibernéticos contra outros países, os EUA têm usado repetidamente o pretexto de segurança nacional para cercear empresas chinesas de alta tecnologia e interferir na escolha autônoma de parceiros de 5G por outros países. O objetivo não é, de forma alguma, proteger a segurança cibernética, mas sim manter sua rede de vigilância e a hegemonia digital, um ato típico de bullying tecnológico. Acreditamos que o governo brasileiro levará em conta os próprios interesses para viabilizar uma concorrência leal entre as empresas com regras transparentes, imparciais e sem discriminação.
Sobre o Brasil, Wanming afirmou ter uma sintonia na visão das relações diplomáticas entre a China e o Itamaraty.
– A China se mantém há 12 anos como o maior parceiro comercial do Brasil, o primeiro país da América Latina a ter um volume acima de 100 bilhões de dólares (R$ 511 bilhões). Mesmo na pandemia, esse comércio apresentou um crescimento robusto, que responde por quase 70% do superávit brasileiro. Nos próximos dez anos, a China importará cumulativamente 22 trilhões de dólares (R$112 trilhões) em bens, criando oportunidades para a exportação com maior valor agregado.
Em uma avaliação dos primeiros meses do governo do presidente Joe Biden, o embaixador disse que “as relações China-EUA encontram-se numa nova encruzilhada”.
– As relações China-EUA encontram-se numa nova encruzilhada, e a chave da questão é saber se os Estados Unidos conseguem aceitar ou não a ascensão pacífica de um grande país com diferença no sistema social, na história, cultura e estágio de desenvolvimento, e se reconhecem ou não que o povo chinês também tem o direito de buscar o progresso. A política externa da China visa a uma relação sem confronto, pautada no respeito mútuo e na parceria de ganho mútuo. Ao mesmo tempo, defende a soberania, a segurança e os interesses de desenvolvimento da China. Esperamos que a parte americana possa avançar em direção a um meio-termo em busca de uma convivência pacífica e parceria de benefício recíproco. Isso favorece à China, aos EUA e ao resto do mundo.
Ele afirmou ainda que “como segunda maior economia do mundo, a China se integra cada vez mais à economia mundial”.
*AE