Dois estudos publicados nesta semana podem ser a resposta dos motivos pelos quais pessoas infectaram com o coronavírus e superaram a doença sem problemas, enquanto outras adoeceram até a morte. Uma das pesquisas indicou que quase 20% das mortes por Covid se devem ao fato de os pacientes gerarem um tipo de proteína que ao invés de proteger contra o vírus, aumentou os efeitos.
Um consórcio internacional de cientistas e médicos já alertava há quase um ano que 10% dos pacientes geravam autoanticorpos, proteínas do sistema imunológico que inexplicavelmente se voltam contra o corpo do paciente. Esses “anticorpos defeituosos” atacam os interferons tipo 1, conjunto de moléculas responsáveis por interceptar o vírus logo após a entrada dele no corpo.
Ao interceptar o vírus, os interferons “disparam” um alarme generalizado em todos os tecidos para que as células ativem seu mecanismo de proteção. O bloqueio dessa molécula, com o ataque aos interferons, foi suficiente para que a infecção se agravasse e colocasse em risco a vida do paciente.
Em novos estudos feitos com mais de 3.500 pacientes em estado crítico devido à Covid-19, e publicados esta semana na Science Immunology, os dados mostram que quase 14% dos pacientes gravemente enfermos tinham esses anticorpos defeituosos. O estudo também mostra que esses autoanticorpos são muito mais comuns em pessoas mais velhas, especialmente acima dos 70 anos.
A presença desses autoanticorpos também é maior em pacientes com algumas doenças imunológicas prévias, como o timoma, que atinge o timo, espécie de quartel onde os membros do sistema imunológico são treinados para diferenciar quais moléculas são suas e não devem ser atacadas e quais pertencem a agentes patogênicos e devem ser mortos.
ESTUDO TAMBÉM APONTA MOTIVOS DE LETALIDADE MAIOR PARA HOMENS
Já um segundo estudo fala sobre um dos motivos pelos quais a Covid-19 tem sido mais letal para os homens. É uma mutação no gene TLR7 que predispõe à doença mais severa. Esse gene está no cromossomo X, o que torna os homens muito mais vulneráveis.
No nível genético, um homem difere de uma mulher por ela ter duas cópias do cromossomo X e ele apenas uma. Este é um “seguro de vida” para mulheres, pois nesse cromossomo existem vários genes-chave para o bom funcionamento do sistema imunológico. Ter duas versões desse cromossomo torna a cópia saudável capaz de neutralizar os efeitos da cópia defeituosa.
A ligação direta entre o sexo biológico e o funcionamento do sistema imunológico é o ponto fundamental das análises, já que, na maioria das vezes, não é o vírus que mata o paciente, mas a reação defeituosa do seu sistema imunológico. Depois que o vírus entra no corpo, alguns pacientes produzem um grande número de moléculas inflamatórias que agravam a pneumonia.
Além desse fato, os homens mais velhos geram menos linfócitos T capazes de identificar e destruir células infectadas. Um dos principais fatores de risco para Covid-19 é a idade, em parte porque o sistema imunológico envelhece e funciona cada vez pior. Mas esse envelhecimento imunológico geralmente ocorre mais cedo nos homens do que nas mulheres.