Narges Mohammadi, ganhadora do Nobel da Paz deste ano, iniciou uma greve de fome nesta segunda-feira (6) por ter sido impedida, junto com outros presos, de receber cuidados médicos. Com a manifestação, Mohammadi também deseja protestar contra o uso obrigatório do lenço na cabeça para as mulheres no Irã, de acordo com uma campanha em defesa da ativista.
A decisão de Mohammadi, de 51 anos, aumenta a pressão sobre a teocracia iraniana devido ao encarceramento da ativista, que recebeu o Nobel pelos seus anos de protesto contra as duras leis iranianas, apesar de uma campanha de décadas do governo contra ela.
A campanha Free Narges Mohammadi disse que ela enviou uma mensagem da Prisão de Evin e “informou a sua família que iniciou uma greve de fome há várias horas”. Segundo a campanha, Mohammadi e seu advogado tentam, há semanas, transferir a ativista para um hospital especializado para cuidados cardíacos e pulmonares, sem detalhar as condições de que Mohammadi sofre.
Outra ativista iraniana que está presa, a advogada Nasrin Sotoudeh, também necessita de cuidados médicos que ainda não recebeu. Ela foi presa enquanto participava do funeral de uma adolescente que morreu em circunstâncias controversas no metrô de Teerã sem usar o hijab.
– Narges iniciou hoje uma greve de fome… protestando contra duas coisas: a política da República Islâmica de atrasar e negligenciar os cuidados médicos aos reclusos doentes, resultando na perda da saúde e da vida de indivíduos, e a política de “morte ou hijab obrigatório” para as mulheres iranianas – dizia o comunicado.
As autoridades iranianas e a sua rede de televisão controlada pelo Estado não reconheceram imediatamente a greve de fome de Mohammadi, o que é comum em casos que envolvem ativistas no país. A missão do Irã na ONU não respondeu imediatamente a um pedido de comentário.
Mohammadi manteve o seu ativismo apesar das numerosas detenções pelas autoridades iranianas e de ter passado anos atrás das grades. Ela continuou sendo uma figura de destaque nos protestos liderados por mulheres em todo o país, desencadeados pela morte, no ano passado, de Mahsa Amini, uma mulher de 22 anos que estava sob custódia policial após não usar hijab.
Em outubro, a adolescente Armita Geravand sofreu um ferimento na cabeça enquanto estava no metrô de Teerã sem hijab. Os pais de Geravand apareceram em imagens da mídia estatal dizendo que um problema de pressão arterial, uma queda ou talvez ambos contribuíram para o ferimento da filha. Ativistas no exterior alegaram que Geravand pode ter sido empurrada ou atacada por não usar o hijab. Ela morreu semanas depois.
As autoridades prenderam Sotoudeh, uma advogada de direitos humanos de 60 anos, enquanto ela comparecia ao funeral de Geravand. Sotoudeh não usava hijab no momento de sua prisão e sofreu ferimentos na cabeça que causaram dores de cabeça prolongadas.
*AE