Dengue se espalha e pressiona serviços de saúde em 5 estados
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Publicado em 03/02/2022

Em ao menos cinco estados, os casos de dengue têm aumentado no rastro do recente avanço da Covid-19. Em Minas Gerais, as infecções por dengue cresceram 94% em uma semana. Alagoas, Rio Grande do Sul, Tocantins e cidades do interior paulista também relatam alta.

Especialistas preveem que 2022, já marcado pelos recordes de infecções pela variante Ômicron do coronavírus, será um ano de maior incidência de dengue. Gestores alertam ainda para o risco de confusão nos diagnósticos, uma vez que há sintomas similares, como febre e dor no corpo.

Depois das chuvas, em menos de uma semana os casos de dengue praticamente dobraram em Minas. Em 20 de janeiro, a Secretaria de Saúde do estado notificou 178 casos. Já no dia 26, o número subiu para 347; alta de 94%.

Já os casos de chikungunya tiveram uma alta ainda maior, de 192%, passando de 27 para 79 no mesmo período. E houve seis casos prováveis de zika no estado. Não há, porém, nenhum registro de óbito por causa dessas doenças.

Conforme a coordenadora de Vigilância das Arboviroses da pasta, Danielle Capistrano, não está excluído o risco de epidemia no período sazonal da doença, que começou em dezembro e vai até junho. A gestora lembra que o elevado volume de chuvas, aliado à temperatura alta, pode ter aumentado os focos de criadouros do mosquito Aedes aegypti.

Segundo ela, Minas teve ciclos epidêmicos de dengue a cada três anos, desde 2010, sendo o último em 2019. Um novo período de alta nos casos pode acontecer em 2022, por isso a necessidade de se manter o alerta. O governo deve repassar R$ 40 milhões aos municípios para ações de controle.

Em Alagoas, os casos subiram de 65, em dezembro, para 119, em janeiro.

– Com as chuvas, os mosquitos encontram mais pontos de água parada onde se reproduzem, o que impacta nos índices de infestação nos municípios – informou a Secretaria de Saúde local.

Como dengue e Covid têm sintomas parecidos, a pasta recomenda que, em caso de febre, dores no corpo e de cabeça, a pessoa procure atendimento médico, pois as duas doenças são graves.

Conforme a pesquisadora da Fiocruz Claudia Codeço, a infecção pela Covid não evita que a pessoa tenha também a dengue; antes, representa risco maior para os que estão infectados.

– Esses vírus estão circulando pelos mesmos locais, o que pode gerar dificuldade de diagnóstico e de tratamento oportuno das pessoas, tanto na covid, quanto na dengue. Vai ter impacto em ambas, pois são doenças cuja eficácia no tratamento depende de um diagnóstico o mais oportuno possível – diz.

No Rio Grande do Sul, os casos de dengue mais do que dobraram em 2021, em relação ao ano anterior (10.149 infecções, ante 3,6 mil). Este ano, foram registrados 75 casos nas duas primeiras semanas de janeiro, segundo o último boletim epidemiológico. A Secretaria de Saúde de Porto Alegre enviou alerta à rede de saúde, após constatar alto índice de infestação do Aedes em 21 bairros.

O Tocantins monitora 71 municípios por risco da epidemia de dengue – 51 estão em alerta diante da alta infestação predial pelo mosquito. Segundo o governo local, 66% das cidades tocantinense estão vulneráveis a epidemias de dengue, zika e chikungunya – as três são causadas pelo Aedes aegypti.

PANDEMIA AFETOU PREVENÇÃO
A Covid-19, segundo Cláudia Codeço, afetou a prevenção e o controle da dengue nos dois últimos anos, pois exigiu que toda a estrutura de saúde fosse direcionada para fazer frente à crise sanitária.

– Houve grande impacto, e agora é necessário recuperar as estruturas e os recursos que estavam alocados para o monitoramento e controle das arboviroses e que foram redirecionados para a pandemia. É preciso fazer isso de forma urgente, especialmente agora, no início da temporada de dengue – defende.

Embora o foco dos governos na área de saúde ainda esteja na Covid, alguns estados e a União já se preocupam com o avanço simultâneo da dengue. No fim de 2021, ao lançar a campanha Combata o mosquito todo dia, mobilizando a população para evitar novas epidemias de dengue, o Ministério da Saúde alertou para o risco de confusão entre os diagnósticos.

– Os principais sintomas da dengue são febre alta (maior que 38,5 graus), dores musculares intensas, dor ao movimentar os olhos, mal-estar, falta de apetite e manchas vermelhas no corpo. Ao apresentar qualquer [um] desses sintomas, é importante procurar um serviço de saúde para diagnosticar e tratar adequadamente – afirmou o ministério.

Já os sintomas de Covid, segundo a pasta, são principalmente febre, tosse seca, cansaço, dores e desconforto, dor de garganta, diarreia, conjuntivite, dor de cabeça, perda do paladar e olfato, e erupção cutânea.

– O diagnóstico da dengue é clínico e feito por um médico. Ele é confirmado por exames laboratoriais de sorologia, de biologia molecular e de isolamento viral, ou confirmado com teste rápido. A melhor forma de prevenir a doença é evitar a proliferação do mosquito Aedes aegypti, eliminando focos, evitando água armazenada que pode se tornar possíveis criadouros [do mosquito] – observou a pasta da Saúde.

FIOCRUZ

Indicadores do InfoDengue, serviço de monitoramento de arboviroses desenvolvido por pesquisadores da Fiocruz e da Fundação Getúlio Vargas (FGV), apontam a região Sul do país, o interior de São Paulo e a região entre Goiânia e Palmas como áreas de atenção para a dengue em 2022.

O mapa crítico para possível expansão da doença inclui o Distrito Federal, a Amazônia e alguns municípios isolados da Bahia e do Ceará. No sul, norte e oeste paranaense e em cidades de Santa Catarina, como Joinville, o Aedes aegypti circula bastante.

*AE

 

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